terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Caem os investimentos em mídia do Governo Federal em 2007

A Secretaria da Comunicação Social da Presidência da República (Secom) informa o total de investimentos em mídia do Sistema de Comunicação Social (Sicom) do Governo Federal, que engloba a Secom, empresas estatais e organismos da Administração Direta.
O total do investimento em 2007 foi de R$ 908,1 milhões, com uma queda de 18,5% real (já descontada a inflação) em relação aos R$ 1.114,8 milhões realizados em 2006. A redução se explica porque o Congresso determinou um corte das verbas publicitárias do Governo Federal, que em 2007 deveriam ficar restritas a 90% do valor aplicado em 2006. Além disso, diversos componentes do Sicom estavam sem agência de publicidade e deixaram de investir em mídia em 2007, como foi o caso dos Correios, da Eletrobrás e do Ministério dos Transportes. Os investimentos das empresas estatais que concorrem no mercado representaram 72,2% do total das verbas de mídia do Governo Federal, com um investimento de R$ 656,2 milhões em 2007 e uma diminuição real em comparação com o valor aplicado em 2006.
O investimento total em televisão foi de R$ 573,6 milhões em 2007, com uma queda de 16% em comparação com o ano anterior. No entanto, a participação da televisão (share) no total dos investimentos em mídia do Governo Federal passou de 61,3% em 2006 para 63,2% em 2007, pois diversas empresas estatais concentraram maior verba neste meio, por exemplo em patrocínio de eventos como os Jogos Pan Americanos.
No caso do meio jornal, o volume de verbas em 2007 foi de R$ 101,2 milhões, com queda de 7% comparado com 2006, mas o share deste meio cresceu de 9,8% em 2006 para 11,1% em 2007. Em linha com a política da Secom, que incentiva a regionalização da comunicação e a diversificação e distribuição mais eqüitativa das verbas, o número de veículos que receberam publicidade de órgãos do Sicom, comparando os quadriênios 2000/2003 e 2004/2007, cresceu cerca de 63%, passando de 3.703 para 6.031 veículos.
O investimento em rádio caiu em valor e em share de 2006 para 2007, como é possível verificar no quadro abaixo, devido ao fato de diversas estatais terem concentrado mais verbas em televisão, em função da compra de pacotes para a transmissão de eventos dos Jogos Pan Americanos.
Todos os números aqui apresentados foram fornecidos pelo Instituto para Acompanhamento da Publicidade (IAP), a partir dos pedidos de inserção fornecidos pelas agências de publicidade. A Secom divulgará no segundo semestre deste ano os investimentos em publicidade do Governo Federal realizados na primeira metade de 2008, para cumprir a política de transparência e prestar contas à sociedade.

Brasília, 03 de junho de 2008

Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República

Clique aqui para ver mais detalhes sobre os investimentos em mídia do Governo Federal

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

'Objetivo é dobrar número de ciclistas até 2015'' - O Estado de S.Paulo

Camila Viegas-Lee

Desde que a comissária Janette Sadik-Khan assumiu o comando do Departamento dos Transportes em Nova York, há 35% de ciclistas a mais nas ruas da maior metrópole americana. Em 27 de abril de 2007, Janette embarcou numa política agressiva para melhorar a qualidade do ar, a mobilidade e os espaços públicos. Para ela, o sistema de transporte de cidades como Nova York ou São Paulo está tão ligado à condução quanto à qualidade de vida.

Um dos desafios do Departamento dos Transportes é a falta de estacionamentos para bicicletas. Duas leis em estudo poderiam aliviar o problema: permitir o acesso de bicicletas em estacionamentos de prédios comerciais e criar um estacionamento para bicicleta a cada dez para carros.

Em busca de soluções para as questões de transporte, Janette tem visitado diversas cidades. Em dezembro, esteve em São Paulo para a Conferência Internacional Urban Age, sobre o futuro das cidades. Em entrevista ao Estado, falou sobre economia, ecologia e a amiga bicicleta.

Os entusiastas dizem que Nova York é perfeita para bicicletas. Os críticos dizem que é loucura pedalar ao lado dos famosos taxistas da cidade. Como surgiu a ideia de investir em um programa de bicicletas para a cidade?

Nova York é relativamente plana e a maior parte das viagens é menor do que três quilômetros. Ir para o trabalho de bicicleta é uma maneira saudável, econômica, ecológica e divertida de curtir a cidade. E menos do que 1% da população pedala como transporte diário, portanto temos uma ótima oportunidade para aumentar essa porcentagem. Nosso objetivo é dobrar o número de ciclistas até 2015. Alguns dizem que a bicicleta é uma forma alternativa de transporte. Acho que é fundamental.

Desde que a senhora assumiu, a extensão de ciclovias passou de 350 km para 675 km. O que mais faz parte do plano de dobrar o número de ciclistas até 2015?

Lançamos a campanha Look, com o objetivo de educar ciclistas, motoristas e pedestres para respeitarem um ao outro. Além disso, distribuímos 20 mil capacetes e 1.500 campainhas e luzes para bicicletas, essenciais para evitar acidentes.

Quais os maiores desafios dessa meta?

Mudar como as pessoas veem suas ruas. Para elas, o melhor que se pode esperar é permitir um rápido acesso do ponto A ao ponto B. Essa mentalidade prioriza carros e não é uma maneira sustentável de lidar com o aumento da população. Haverá mais 1 milhão de habitantes em Manhattan em 2030 (hoje há 8,2 milhões). Devemos considerar todos os usuários: pedestres, passageiros de ônibus, motoristas e ciclistas. Isso beneficiaria todo mundo. A dificuldade é alcançar o ponto em que todo mundo muda de mentalidade e se dá conta de que pedalar é a maneira mais fácil e segura de ir de um lugar ao outro.

Se tivesse de bolar um programa para incentivar o uso de bicicletas em São Paulo, quais seriam os passos?

Desenvolver projetos de integração com o transporte público. Incluir estacionamentos de bicicletas em estações de metrô, por exemplo. E, acima de tudo, manter conversa constante com o público para mostrar como é mais vantajoso do que usar carros.

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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

SC: o preço do esquecimento

Publicado originalmente na Revista Amanhã

Há 25 anos, os catarinenses sofreram uma tragédia que gerou forte comoção e um plano que parecia perfeito. Até que...

A dor sentida por Santa Catarina - e também pelo Brasil - com a catástrofe causada pelas chuvas que despencaram sobre o Vale do Itajaí, na última semana de novembro, encontra paralelo 25 anos atrás. Em 1983 e no ano seguinte, o Estado sofreu com duas grandes enchentes que causaram a morte de cerca de 50 pessoas e deixaram desabrigadas outras 200 mil. À época, nascia um plano elaborado conjuntamente pelos governos federal, estadual e municipais para evitar que a natureza voltasse a arrasar a região. A iniciativa previa investimentos em contenção de encostas, desassoreamento de rios - sobretudo o Itajaí-Açu - e normas para a ocupação urbana do solo, entre outras medidas. Mas o que era para ser uma solução não foi adiante. Se colocado em prática, o plano poderia ter evitado pelo menos boa parte das 126 mortes registradas pela Defesa Civil catarinense na tragédia atual. O número, contudo, deve ficar ainda maior porque há, oficialmente, 27 pessoas desaparecidas.

Enquanto a população tenta fazer com que a vida volte ao normal, a economia calcula - ainda de maneira preliminar - os prejuízos causados por perdas de estoques, paradas de produção e fechamento do comércio. Um levantamento inicial do governo estadual, apresentado ao ministro da Fazenda Guido Mantega, aponta um comprometimento de R$ 1 bilhão do PIB em função dos 15 dias de colapso. O porto de Itajaí, que teve três de seus quatro berços de atracação destruídos, ficou inoperante por mais de dez dias. Nesse período, o terminal deixou de movimentar cerca de R$ 800 milhões em mercadorias.

Tamanho desastre poderia ter sido menor. Bem menor. É consenso entre os analistas ouvidos por AMANHÃ que o principal responsável pelas enchentes e pelos deslizamentos de terra é o próprio homem. Um homem imprudente, como adjetiva Adalberto Marcondes, especialista em Ciência Ambiental e diretor de redação da revista digital Envolverde. Marcondes diz que pouco ou nada se aprendeu com os acontecimentos do passado. Em uma crítica direta aos governantes, ele afirma que quando são autorizadas construções em encostas entra em cena o risco iminente de uma tragédia. "O poder público acaba sendo leniente com a ocupação desordenada do solo. Só porque a pessoa já construiu sua casa, não se tira mais ela de lá", pondera. A cobrança encontra eco em Fernando Almeida, presidente-executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds): "É preciso uma política pública que impeça a ocupação de áreas inadequadas sob o ponto de vista geológico, mantendo a cobertura vegetal intacta", diz.

O efeito é bem conhecido. Com o crescimento das cidades e a conseqüente urbanização de áreas verdes, várzeas e encostas, o solo acaba ficando mais suscetível a interferências climáticas, e os rios, com menor capacidade de escoamento. Por isso, chuvas fortes podem causar erosões, deslizamentos e desmoronamentos. Marcondes, da Envolverde, lembra que em 1967 o município paulista de Caraguatatuba passou por uma experiência semelhante à dos catarinenses. "Pelas mesmas razões, ou seja, ocupações irregulares, desmatamento de encostas e excesso de chuvas, a cidade praticamente deixou de existir. Os morros da Serra do Mar ficaram líquidos", conta. Fenômeno parecido conseguiu ser abortado em Cubatão, na baixada santista. Quando o governo de São Paulo percebeu que a tragédia teria enormes proporções porque atingiria indústrias químicas, o processo de ocupação de encostas foi revertido a tempo, lembra Marcondes. "Realizou-se um trabalho muito sério de recuperação da mata", relembra.

De galochas na TV

Mas o que é preciso fazer para que outros desastres naturais não tenham a mesma magnitude?Marcondes e Almeida dão a resposta em uníssono: "Novas e eficientes políticas públicas". Para o presidente-executivo do Cebds, o furacão Catarina, que atingiu parte do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina em 2004, revelou a fragilidade do setor público brasileiro quando é necessário agilidade para contornar esse tipo de situação. "Seja em que nível de governo for, foi uma prova de que não estamos preparados para eventos extremos", diz Almeida, com um alerta. "Ainda veremos mais acontecimentos como esses. Temos de fazer algo para evitá-los."

Agir de maneira preventiva é a solução, mesmo que retirar moradores de áreas de risco seja algo malvisto pela população. "Não adianta o político colocar galochas, sair na chuva e aparecer na TV. Precisamos de lideranças que assumam até mesmo medidas impopulares", destaca Almeida. Assim como ele, o diretor da Envolverde chama atenção para os problemas que as enchentes provocam e que vão além das inundações - como o impacto na saúde pública. "Santa Catarina tem um dos menores índices de saneamento básico do Brasil. Com as cheias, isso aumenta a possibilidade de doenças", observa.

Os catarinenses terão de se reinventar. "Não é possível reconstruir como antes. Será preciso rever todo o modelo de gestão de recursos hídricos," salienta Marcondes. Aliás, segundo Marcondes, todas as grandes cidades brasileiras são problemáticas quando o assunto é gestão de recursos hídricos. Para ele, será preciso repensar esse tipo de processo porque o fornecimento de água potável e o tratamento de esgoto - entre outras medidas - têm relação direta com o desenvolvimento e com a qualidade de vida. "Não se podem mais postergar coisas que a gente sabe que resultam em tragédias", finaliza.

domingo, 30 de novembro de 2008

Conheça o site da Envolverde

WWW.ENVOLVERDE.COM.BR
O site da Revista Digital Envolverde é um dos principais veículos de "Jornalismo pela Sustentabilidade" no Brasil. Diariamente a Envolverde publica mais de cinqüenta notícias, textos, reportagens e artigos.

O boletim diário da Envolverde tem mais de 160 mil assinantes e quase 2 milhões de internautas visitam o site todos os meses.
Distribuição geográfica dos leitores da Envolverde no Brasil.

sábado, 29 de novembro de 2008

Abaixo o romantismo educacional


"Nota do editor - Fazer uma mídia sustentável significa, na maior parte das vezes, colocar o dedo na ferida em temas muito polêmicos. Reconhecer que os seres humanos tem os mesmos direitos é uma coisa, querer que sejam iguais é outra muito diferente. O artigo de Martha San Juan França publicado abaixo, sobre o livro de Charles Murray é um desafio à reflexão e ao debate não apenas sobre o sistema educacional dos Estados Unidos, mas de todo o mundo".

Por Martha San Juan França, para o Valor, de São Paulo

Nos anos 90, o cientista político americano Charles Murray causou furor ao lançar o livro "The Bell Curve - Intelligence and Class Structure in American Life" ("A Curva do Sino"), em parceria com o psicólogo e professor de Harvard Richard Hermstein. Na obra, eles sustentam que a inteligência medida por testes de QI (coeficiente de inteligência) é um fator preditivo três vezes melhor do que as condições sociais ou a educação para indicar o desempenho no trabalho, a renda e até as chances de gravidez fora do casamento de determinados grupos.
Bloomberg
O Harvard College em Cambridge, Massachusetts: "É um mito afirmar que todos podem alcançar e ultrapassar seu potencial máximo de inteligência", afirma Charles Murray

Agora, Murray reforça a sua tese sob outro ângulo. Em seu novo livro: "Real Education: Four Simple Truths for Bringing America's Schools Back to Reality" (Educação Real: Quatro Verdades Simples para Trazer as Escolas Americanas de Volta à Realidade), ele afirma que não há necessidade - e se trata até de desperdício - de obrigar todos os estudantes a cursar uma faculdade. Seu argumento se baseia nos dados das avaliações educacionais, que demonstram que 80% dos jovens estão abaixo da média de competência cognitiva necessária para lidar com o rigor do ensino universitário, que, por definição, obriga a refletir sobre questões intelectualmente complexas.

"Vamos ser realistas", diz Murray. "O diploma normalmente comprova que a pessoa teve uma educação liberal clássica. Significa que tem condições de ler e entender textos difíceis. Mas centenas de jovens nunca conseguirão ler e entender, por exemplo, 'A Ética' de Aristóteles. O resultado é que temos faculdades que oferecem cursos fracos, aumentam as notas e fingem que os seus alunos estão fazendo atividades de nível universitário quando, de fato, não estão. De todas as contribuições que meu livro pode trazer, a que mais me agradaria ver seria o reconhecimento da fraude que o diploma representa."

Bloomberg
Formandos de MBA da Harvard: situação financeira global é um bom exemplo do desajuste entre novas tecnologias da informação e a habilidade cognitiva necessária para saber usá-las, aponta especialista
Murray falou ao Valor antes de viajar pela primeira vez ao Brasil, onde participou de seminário organizado pelo programa de pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento Humano da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Para ele, uma das "grandes falácias da sociedade americana" é o que qualifica de "romantismo educacional" ou a insistência de que "toda criança pode aprender quase tudo se tiver professores e ambiente adequados". "É impossível educar todos do mesmo modo, assim como é um mito afirmar que todos podem alcançar e ultrapassar seu potencial máximo de inteligência. Apenas um número limitado de pessoas está apto a realizar tarefas que exigem capacidade geral para raciocinar, resolver problemas e aprender. Defendo a idéia de que todas as pessoas devem ter algum tipo de treinamento depois do segundo grau, mas a universidade é um modo pouco eficiente de ir atrás dos ensinamentos práticos necessários em ocupações menos exigentes do ponto de vista cognitivo", afirma.

Em outras palavras, Murray prega uma mudança de objetivo dos jovens. "Vamos acabar com esse mito de que a carreira universitária é tudo e de tratar o diploma como um símbolo de status", explica. "O objetivo de quem está nessa fase da vida é atingir a maturidade, tendo descoberto algo que gosta de fazer e considera satisfatório. Se esse algo é física nuclear, então é preciso ir para a universidade porque é lá que está a oportunidade. Se o objetivo é ser um chef de cozinha, um comerciante ou uma auxiliar de enfermagem, então o caminho é fazer alguns cursos práticos antes de começar a trabalhar."

Para o cientista político, a sociedade transformou o diploma em um sinal de competência profissional e atualmente quem não tem o título universitário é discriminado na hora de conseguir emprego. Mas não deveria ser assim. "Exceto no caso de algumas profissões específicas, como engenharia ou medicina, o diploma não dá garantia nenhuma de competência profissional. Representa apenas um pré-requisito sem custo [para o empregador] de perseverança e certo grau de inteligência. Mas trata-se de um requisito muito pobre em termos de informação. Melhor seria substituí-lo por testes vocacionais específicos."

A polêmica do QI

De muitas maneiras, o novo livro de Murray amplia aquilo que já vinha falando desde os tempos do lançamento de "A Curva do Sino". Na época, ele chamava a atenção para o fato de que as pessoas mais inteligentes, que batizou de "elite cognitiva", estavam se isolando em termos competitivos do restante da população e isso contribuía para a desigualdade econômica e social. Essas afirmações provocaram uma avalanche de críticas, sobretudo porque em dois capítulos Murray afirmava, baseado em dados estatísticos, que os negros americanos têm em média um QI mais baixo do que o de outros grupos sociais, como brancos, judeus, asiáticos. Estes últimos, também segundo os dados de Murray, têm melhor desempenho que os brancos. Na época, foi chamado de racista e sua foto chegou a ser colocada ao lado da de Hitler em um telejornal.

Nada muito diferente do que ocorreu recentemente, quando o Prêmio Nobel James Watson, co-descobridor da estrutura do DNA, caiu em desgraça ao dar uma entrevista ao jornal "Sunday Times", em que se dizia "pessimista" sobre o futuro da África, pois as políticas sociais para o continente eram baseadas no fato de que a inteligência dos negros é igual à dos brancos, "apesar de todos os testes dizerem que não". Ou quando o reitor da Universidade de Harvard, Lawrence Summers, acabou perdendo o posto ao dizer que havia explicações biológicas para o fato de existirem poucas mulheres na elite científica.

Por trás dessas afirmações está a sempre explosiva questão do "fator G", ou seja, a medida da inteligência geral que se deve à predisposição genética e, portanto, não depende unicamente do grau de treinamento ou da escolaridade da pessoa avaliada. A partir dessa variável, geralmente aceita por todos os pesquisadores, discute-se se a inteligência é uma habilidade única, aplicável a muitos cenários, ou se representa a soma de habilidades específicas, que a pessoa pode ou não possuir independentemente. O debate estende-se também à questão de como a inteligência, medida pelos testes de QI, se traduz no desempenho diário ou na evolução acadêmica.

Para especialistas como Murray, os testes de QI e outros que medem a capacidade cognitiva dão uma boa idéia da inteligência de grupos, etnias ou gênero. Daí suas afirmações mais polêmicas. Mas ele insiste que é importante entender que os dados são aplicados a médias de populações e não podem ser extrapolados para indivíduos em particular. Sua preocupação se refere a políticas sociais e à excessiva ênfase, aplicada em seu país, à educação igual para todos, que, em sua opinião, nivela por baixo.

"As evidências científicas comprovam que a educação não pode, por si só, ser responsável pelas desigualdades intelectuais, sociais e econômicas", confirma José Aparecido da Silva, professor do Departamento de Psicologia e Educação da unidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). "Dizer que crimes, drogas, desemprego, filhos ilegítimos, pobreza são frutos, simplesmente, do baixo nível escolar, é o que mais grassa nos discursos político-econômicos e educacionais."

José Aparecido concorda com Murray: "No Brasil, é difícil falar sobre essas questões porque temos problemas mais urgentes relacionados a má nutrição, desagregação familiar, escolas inadequadas, etc. Mas uma consulta aos dados publicados nas avaliações educacionais - nacionais e internacionais - permite, de imediato, inferir que metade das crianças está abaixo da média de competência cognitiva, ou seja, abaixo da média de distribuição de índices de inteligência que servem de parâmetro, o que, por conseqüência, limita severamente seu desempenho escolar. E mesmo o sistema educacional mais perfeito pouca diferença faz no desempenho desses estudantes."

Segundo o pesquisador brasileiro, "é preciso substituir a ré educação pela ré inteligência. E tal substituição, semelhante a outros dardos que ferem o âmago do ego humano, é de difícil aceitação e muitas vezes constitui uma questão perigosa sobre a qual podemos apenas ouvir falar e nunca investigar sistematicamente".

Qualificação por baixo

Sendo um dos acadêmicos do conservador American Enterprise Institute, em Washington, Murray está preocupado com a qualificação por baixo. Ele acredita que os numerosos programas governamentais americanos, especialmente a ação afirmativa que estabelece o sistema de cotas para negros, representa uma forma de discriminação contra os mais capazes que não são necessariamente brancos. Mais preocupante, segundo ele, é o fato de que a sociedade tecnológica requer o aproveitamento dos mais inteligentes para seguir evoluindo.

"Não tenho nada contra o fato de investir dinheiro naqueles em desvantagem acadêmica, desde que tenha resultado. Mas isso não está acontecendo e, o que é pior, estamos negligenciando o tipo de educação que pode fazer diferença, como ensinar a ganhar a vida a despeito dessa desvantagem. Além disso, negligenciar os mais talentosos é moralmente tão ruinoso quanto criar programas que não beneficiam aqueles menos inteligentes", diz.

Um dos primeiros pesquisadores a tentar estabelecer modelos para compreender as diferenças na inteligência das pessoas, o psicólogo Earl Hunt, professor emérito da Universidade de Washington, concorda que não é uma boa idéia levar mais do que 50% dos estudantes à universidade. Segundo ele, desde que o ambiente de aprendizado seja adequado, todo mundo consegue aprender o básico no primeiro grau e não há necessidade de separar classes. "As coisas são diferentes quando os estudantes vão para o segundo grau", contrapõe. "A partir daí, eu acredito em classes especiais para os mais inteligentes."

Hunt, que também esteve no seminário promovido pela UFMG, é um dos consultores do projeto Study of the Latin American Intelligence (Slatint), ainda em andamento, que estuda amostras de jovens adolescentes latino-americanos com idade entre 14 e 15 anos para identificar o peso das habilidades específicas que carregam no fator G. O grupo de Carmen Flores-Mendoza levanta a hipótese de haver diferenças entre as culturas no peso dessas habilidades. "Por exemplo, o raciocínio matemático pode ter um peso maior no fator G na cultura asiática, enquanto o raciocínio verbal predomina nas culturas latinas", afirma. "É uma hipótese ainda não verificada em nível internacional e cuja resposta deverá auxiliar na política educacional latino-americana."

Autor do livro clássico "Will We Be Smart Enough?" (Seremos Espertos o Suficiente?), de 1995, Earl Hunt utiliza a teoria cognitiva aliada a projeções demográficas e pesquisas psicométricas para medir a capacidade da força de trabalho atual de responder aos desafios representados pelas novas tecnologias de informação. Em entrevista ao Valor, ele disse que a situação financeira global é um bom exemplo do desajustamento entre essas novas tecnologias e a habilidade cognitiva necessária para saber usá-las. "Parte da crise ocorreu porque o setor financeiro passou por uma série de inovações, ampliação de mercado, avanço tecnológico e integração global que ocorreram de forma muito rápida", observou. "O resultado é que poucas pessoas entenderam os riscos que estavam sendo criados."

Segundo Hunt, a preocupação com os efeitos da mudança de tecnologia é antiga. "Sócrates já dizia que a invenção da escrita levava à deterioração da memória", exemplifica. "Os religiosos do século XV acusavam a imprensa de ser perniciosa para a sociedade, na medida em que levava mais pessoas a ler e interpretar a 'Bíblia' sem a ajuda da igreja. Atualmente, as pessoas se perguntam se o Google está nos tornando mais estúpidos. Acho que em todas as épocas as pessoas reagem às novas tecnologias. Ler e imprimir mudam o modo como as pessoas pensam... e também o Google. O desafio da educação é ensinar a refletir sobre essas mudanças."

domingo, 23 de novembro de 2008

Diesel - Reportagem de André Trigueiro

Caros, muito boa a reportagem e o comentário do jornalista André Trigueiro sobre o acordo fechado em relação ao percentual de enxofre do diesel vendido nas cidades. Vale a pena ouvir.
http://www.cbn.com.br/wma/wma.asp?audio=2008%2Fcolunas%2Fmundo_081101.wma

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Novo video do WWF