domingo, 21 de junho de 2009

E como ficam os estudantes de jornalismo?

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Por Dal Marcondes, da Envolverde

Não se exige mais diploma universitário para o exercício da profissão de jornalista. Esta regra foi criada em 1975 e assinada pelo então general-presidente Ernesto Geisel. Foi ela o único motivo pelo qual fiz a faculdade de jornalismo. Minha intenção era cursar história e exercer o jornalismo, profissão que já tem uma certa tradição em minha família. Minha avó Hilda Marcondes foi jornalista, meu pai Silvio Senna é jornalista e minha filha está cursando jornalismo.

Neste momento não creio que seja produtivo tratar da exigência ou não de diploma de graduação em jornalismo para exercer a profissão de informar a sociedade. Já é uma decisão do Supremo Tribunal Federal e não cabe recurso, apesar de muita gente ainda estar esperneando. Tampouco interessa se sou a favor ou contra o diploma. O mais importante e relevante no momento é dizer aos muitos milhares de estudantes que estão em faculdades de jornalismo como isto vai afetar suas vidas.

Ser jornalista hoje não depende mais apenas de um diploma, mas da qualificação, capacitação e qualidade com que as pessoas estarão preparadas para a tarefa de informar a sociedade sobre fatos do presente e desafios do futuro. Às faculdades de jornalismo resta apenas sair da confortável posição de vendedoras de diplomas com garantias corporativas para a essencial tarefa de formar e capacitar jovens profissionais que vão buscar com competência e talento um lugar no cenário da comunicação.

As empresas de comunicação certamente atuarão de forma oportunista, derrubando conquistas como o piso salarial e garantias de horários de trabalho. Mas não vão conseguir manter a qualidade do jornalismo se esquecerem que, acima de tudo, o jornalista é uma pessoa com compromissos éticos com a sociedade. Um profissional que faz a leitura da realidade e a transforma em boas histórias, com caráter informativo e com relevância para a construção da “opinião pública”.

É preciso dizer alguma coisa a estes milhares de estudantes que chegam ao jornalismo despidos de seus diplomas e vão enfrentar na lide diária com a notícia desafios que vão além do cotidiano, e trazer às portas da sociedade a urgência de transformações no processo civilizatório. Ser jornalista não significa apenas ter um diploma que garanta acesso privilegiado ao mercado de trabalho. Este diploma nunca garantiu isso e, nos últimos tempos, quase metade do que se publica nos grandes jornais brasileiros, especialmente em seções de opinião, não é escrito por jornalistas. Ser jornalista sempre foi uma questão de dedicação e talento.

Sempre me lembro que me formei pela USP, turma que fez o 1° semestre em 1978. Éramos quase 80 estudantes que sonhavam ser jornalistas e profissionais de comunicação. Hoje, quase 30 anos depois, olhando em perspectiva, creio que temos uns dez daqueles 80 que efetivamente atuam como jornalistas ou profissionais de comunicação. Os outros enfrentaram a vida com outras paixões.

Recentemente, durante a Conferência Ethos, em São Paulo, o jornalista Nemércio Nogueira, que hoje atua na área de comunicação corporativa da Alcoa, multinacional do alumínio, disse: “Não estou mais na redação, mas nunca abandonei a cachaça”. Ou seja, as motivações para o jornalismo incluem talento, vontade e compromisso. Nunca vi ninguém dizer que quer ser jornalista para ficar rico. Aliás, em meus trinta anos de redações nunca vi um jornalista ficar rico. Não é para isto que se exerce esta profissão.

Quem acreditar que derrubar a exigência do diploma vai mudar o perfil dos jornalistas está muito enganado. Acreditar que o diploma faz o jornalista é o mesmo que repetir o erro dos torturadores que quebraram os dedos do repórter para que ele não publicasse sua história. No dia seguinte puderam ler: “que tolos, eles acham que os jornalistas escrevem com as mãos”.

O jornalista de hoje e do amanhã tem desafios maiores do que ficar restrito aos currículos. Precisam estudar, e muito, para compreender seu papel em um mundo em mutação, capaz de curar doenças através da nanotecnologia e manter um bilhão de seres humanos passando fome. Ser jornalista nos dias de hoje é um privilégio, é estar no lugar certo, na hora certa. Nunca a sociedade precisou tanto de jornalistas, e nunca estes profissionais tiveram tantos meios para levar informação e conhecimento à sociedade.

Não temos mais diploma. Mas nunca precisamos dele. Temos carências sim, de qualidade de ensino, de conhecimento e sede por informações. Os jornalistas vão seguir em frente nas trincheiras que a humanidade precisa para barrar a barbárie, a ignorância, a tirania e sua própria estupidez. Sempre haverá um jornalista fazendo de sua pena uma arma contra alguma injustiça.

Os moinhos de vento hoje são outros, e são muitos. Para cada nova resposta que a humanidade descobre, jornalistas buscarão novas perguntas. (Envolverde)


(Agência Envolverde)