terça-feira, 19 de agosto de 2008

Informação para a sociedade

por Dal Marcondes

Participo de diversas redes de comunicação, e uma delas é a Rede Brasileira de Jornalistas Ambientais. Esta rede, que está completando 10 anos, reúne jornalistas e estudantes de comunicação que atuam com pautas ambientais em todo o Brasil, além de ter alguns observadores internacionais. Creio que os profissionais que atuam com as pautas mais relevantes em termos ambientais estão inscritos na RBJA, atualmente são cerca de 500. Muitas das mais importantes denúncias e reflexões sobre a cobertura da mídia sobre meio ambiente no Brasil e no mundo passou por esta rede, que funciona em um sistema de grupos do Yahoo.

Nos últimos tempos os debates têm se concentrado no formato de financiamento de informações sobre meio ambiente para a sociedade. Existe certo consenso de que as transformações nas relações de produção e consumo, necessárias para a construção de um modelo de desenvolvimento ambientalmente menos agressivo, passam pela informação que sociedade recebe sobre os impactos causados pelo atual modelo, e pela difusão de alternativas de boas práticas. Desta forma cidadãos/consumidores podem decidir de forma mais elaborada suas opções de participação e consumo.

A sociedade precisa de informações para perceber quais são os desafios e empreender no caminho da sustentabilidade. Contudo, se os desafios não são colocados pela mídia, não haverá reação. Afinal, não se pode enfrentar obstáculos desconhecidos. De uma forma geral a mídia brasileira está publicando mais matérias sobre meio ambiente, no entanto, a pauta ainda é focada em temas pontuais. Tem matérias sobre os índices de desmatamento da Amazônia, sobre acidentes ambientais e alguma coisa voltada para a educação ambiental de forma lúdica.

Poucos são os veículos de comunicação que trabalham a informação de forma coerente dentro de paradigmas de sustentabilidade. Isto quer dizer um olhar sobre a notícia que leve em conta o respeito ao meio ambiente, a responsabilidade social e o desempenho econômico. Estas poucas mídias precisam de recursos para manter equipe, pagar gráfica e manter uma estrutura empresarial que a mantenha como uma opção informativa para a sociedade. Desde o início dos anos 90 várias mídias surgiram com este propósito. Muitas não conseguiram sobreviver e algumas ainda estão ai trabalhando os mesmos desafios para se manter desde a sua fundação. A maior parte das mídias chamadas “ambientais” são feitas por profissionais de destaque no campo do jornalismo e não por pessoas que não conseguiram vencer em outras áreas. Exemplos disso são Vilmar Berna, editor da Revista e do Portal do Meio Ambiente, Lúcia Chaib e Renné Capriles, editores da Eco 21, Cecy Oliveira, editora do Portal Água on line, Hiram Firmino, editor do JB Ecológico e muitos outros colegas.

Apesar dos diferentes modelos editoriais, os desafios de financiar a atividade são os mesmos, não há recursos financeiros suficientes para que estas mídias galguem um espaço de destaque, com alcance suficiente para debater nacionalmente os paradigmas de produção e consumo. Mídias não são transformadoras por si, mas são capazes de oferecer as informações e conhecimentos necessários para que a sociedade reflita sobre suas escolhas.

Não há no Brasil nenhuma discussão relevante sobre modelos de financiamento à informação para a sociedade. Quem paga jornais, revistas, TVs e internet é o mercado publicitário, sem nenhum (ou pouco) juízo de valor sobre que tipo de informação está financiando para a sociedade. Nem ao menos as verbas publicitárias de organismos de governo são utilizadas com uma avaliação sobre os conteúdos das mídias onde publicam seus anúncios. O que de fato existe é um comércio de público. As agências de publicidade compram público em uma relação de “custo por mil”. As mídias convencionais sabem disso e, portanto, trabalham com o tipo de informação que maximize seu público.

Até agora não há novidade no que estou dizendo. Mas, quando jornalistas que cobrem pautas ambientais começam a questionar o modelo publicitário para o financiamento das atividades das mídias que atuam com pautas ambientais e de sustentabilidade, levantando supostos “conflitos de interesse”, é sinal de que está na hora de estudar como manter estas publicações.

Alguns itens merecem reflexão:

• Nenhuma mídia no Brasil jamais conseguiu se manter apenas com assinaturas e vendas em bancas.

• Jornalismo, seja ambiental ou pela sustentabilidade, é atividade profissional e deve ser remunerada.

• A produção de jornalismo de boa qualidade envolve custos.

• O Brasil registra avanços na gestão ambiental e as mídias ambientais têm uma contribuição importante para isso.

• Não ter mídias ambientais seria um retrocesso da sociedade

Então, como fazer? Desde que comecei a atuar em jornalismo, no início dos anos 80 do século passado, aprendi que existem basicamente dois tipos de pautas jornalísticas:

• A pauta sobre coisas que o público deseja;

• A pauta sobre coisas que o público precisa saber;

Estas duas pautas têm papéis diferentes na formação de uma sociedade. A primeira está ligada ao entretenimento, à cultura, esportes, lazer etc. A segunda tem uma relação direta com a construção da cidadania, com a estruturarão de política públicas e com a necessidade de difundir-se conceitos nem sempre fáceis de se transmitir.

Bom, trabalhar com pautas ambientais está mais para a segunda opção, aquela que elege a informação necessária para a sociedade como mote principal de pauta. Isto quer dizer, principalmente, que muita gente não vai ler, ver ou ouvir. Isto não significa, no entanto, que não sejam pautas fundamentais para a sociedade.

Os debates que estão ocorrendo na RBJA mostram que o Brasil precisa ir mais longe na discussão de que País pretende ser. Há distintos modelos de mídias, cada uma com um papel diferente na formação da sociedade e as mídias que atuam com temas de alta especialização precisam de um modelo próprio de financiamento. Isto engloba o jornalismo científico, o ambiental, o de cidadania, o étnico e muitos outros.

O exercício profissional do jornalismo de qualidade exige recursos financeiros. Por enquanto os únicos disponíveis vêm da publicidade. Mas não precisa ser assim para sempre. (Envolverde)

Nenhum comentário: